Sempre que um espetáculo vem à luz, um outro se constrói na sombra, invisível. Invisível e silencioso, um conjunto de pessoas dedica a sua energia e atenção para que tudo aconteça sob a luz dos projetores: empregadas de limpeza, diretores de cena, técnicos de luz, técnicos de som, maquinistas. Na sombra há a preparação física e mental do bailarino: o gesto repetido vezes sem conta, a espera pelo público, o nervosismo ante a possibilidade do erro, eletricidade na barriga e figurino no corpo, o desejo imenso de superação e, sobretudo, a sensação clara de ter asas nos pés. Na sombra vive-se entre o formigueiro agitado dos camarins e o silêncio cúmplice dos bastidores. Esse mundo invisível, gémeo siamês do espetáculo visível, foi a inspiração para o espetáculo deste ano. Sejam bem-vindos.